Os Nossos Escritores

António José da Costa Neves (E. S. Tagino)

 

António José da Costa Neves (E. S. Tagino) é natural de Grândola e reside em Almada há quarenta anos. Licenciado em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, até se reformar teve uma atividade profissional diversificada, tendo trabalhado no Ministério das Finanças, na banca, no sector empresarial e na economia social. O autor é casado e tem uma filha, Bárbara Valle-Frías, sua habitual revisora, e os seus livros são publicadas, normalmente, pela editora Saída de Emergência e distribuídos pela Bertrand Livreiros.


Bibliografia:

 

Mataram o Chefe de Posto

Esta é uma história de amor e perda no cenário da Guerra Colonial, em plena Operação Nó Górdio, Moçambique, 1969. «Nesse domingo, à tarde, apareceu Eibi. Os cabelos loiros estavam baços e os olhos azuis fundos e pisados. As calças que vestia eram largas e a blusa, aos quadrados, demasiado masculina. Mesmo assim, noutros tempos, teria provocado uma dúzia de torcicolos no aquartelamento. Mas ela entrou e tudo pareceu natural. E, até, ao alferes lhe pareceu natural levá-la para o quarto e despi-la sem palavras. E, em seguida, possuí-la, com desespero e raiva, debruçado sobre a secretária metálica, as pernas fletidas como um animal, enquanto ela chorava, em silêncio, a dor dos últimos dias.» Como dizia o general Robert Lee, “até é bom a guerra ser uma coisa tão terrível, senão ainda acabávamos por lhe tomar o gosto”.

(Prémio Literário Cidade de Almada- 2006)


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Nem por Sonhos

Todo o homem sonha, todo o homem deseja. Mas estará alguém preparado para que os seus sonhos se tornem realidade? «Não sou alto nem atlético, não tenho olhos verdes nem azuis e o meu cabelo anda constantemente despenteado pelo vento, o que me dá, quase sempre, um ar de idiota». “Nem por Sonhos” é uma narrativa onde um homem a quem não resta senão sonhar, se vê, subitamente, no trilho da sua fantasia. O sonho do inatingível ou apenas a irresponsabilidade do sonhador incapaz de medir as suas consequências.

(Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes – 2006/2007)


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Mea Culpa!

No final dos anos sessenta, numa pequena cidade costeira do Oeste, onde as neblinas e a ventania definem a geografia do agreste do lugar, um grupo de jovens que aspira a ser a próxima geração de pessoas importantes da terra, e uma encantadora adolescente, que a todos seduz, estão no centro de uma brincadeira que redunda em tragédia. Esta é uma história feita de silêncios e segredos, de incomunicabilidade e equívocos e, principalmente de muita culpa.

(Prémio Literário Paul Harris – 2007)


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Abaixo de Cão

Na cama de um hospital central, um homem, politraumatizado, tetraplégico, incomunicável e sem memória, emerge, lenta e penosamente, das profundezas onde se abissara. Quem é este homem e como ali chegou? Esta é a questão que o autor nos coloca. E a viagem que somos obrigados a fazer, para descobrir toda a realidade daquela vida “Abaixo de Cão”, irá confrontar-nos com os aspetos mais negros da existência, numa atmosfera onde a sordidez, a degradação e a amoralidade vivem impregnados dos cheiros fétidos e nauseabundos de um mundo em decomposição. Mundo que tanto pode ser o corpo inútil e corrompido de um qualquer inválido como o bairro da lata que, entaipado, mas ao nosso lado, diariamente, teimamos em não querer ver.

(Prémio Manuel Teixeira Gomes – Menção Honrosa, 2008/2009


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O Amor nos Anos de Chumbo

Tendo como pano de fundo a guerrilha algarvia do Remexido e o ataque a Grândola, nos finais de 1837, que marca o início da nova estratégia da guerrilha miguelista que se irá estender a toda a planície alentejana, este romance transporta-nos a uma época em que, sobre as cinzas do antigo regime e enquanto o romantismo florescia no coração dos poetas, o vírus do caciquismo se instalava no corpo apodrecido da Nação. Tempos de chumbo, em que as diversas fações do Setembrismo se digladiavam abertamente e em que, apesar de tudo, o amor e a paixão, alguma consciência social e o lento despertar do Povo são os sinais, ténues mas esperançosos, de uma possível regeneração.

(Prémio Literário Poesia e Ficção de Almada - Prosa de Ficção, 2008)


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Adamastor

«De como eu, Momad Satar, o verdadeiro Adamastor, conheci e me tornei o mor amigo do senhor D. Luís Vaz de Camões, nesta bela Ilha de Moçambique, dita Muhipiti, no ano 987 da Hégira (1567 d.C.); e de como as netas do senhor D. Fernão Veloso (as mulatas Íris, Veneza e Lianor) assaz me atormentaram, sob os olhares silenciosos e cúmplices da Bárbora escrava e do eunuco Aziz; e tudo o mais que aconteceu nos dous anos seguintes, até o grande poeta se ter embarcado, de regresso a Portugal, na nau “Santa Clara” da armada do substituído senhor viso-rei D. Antão de Noronha.»


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O Pequeno Incendiário

«Tinha onze anos quando o meu avô morreu. Mas não fui ao funeral porque tinha um teste à mesma hora e a minha mãe achou que os meus estudos eram muito mais importantes.» Assim tem início esta narrativa sensorial, onde o menino narrador é o nosso anfitrião. Pelos olhos dele vemo-lo crescer, a ao seu mundo com ele, onde as relações familiares povoam cada página, enviando-nos frequentemente mensagens subliminares do peso da educação para a formação do indivíduo. Um livro para pais e filhos. Tem duas leituras, como num ágil jogo de espelhos, e ambas resultam numa agradável surpresa.


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O Implacável Cerco de Almada

            Esta é a história da Revolução de 1383, vista a partir de Almada e contada por quem a protagonizou. Uma narrativa, em forma de romance, sobre a grandeza da gente miúda, dos homens bons, dos mesteirais dos ofícios, dos comerciantes e do povo anónimo que, contra a oposição generalizada da nobreza, tomou as vilas e os castelos do Reino e os colocou ao serviço do Mestre. Vilãos sem fortuna que, sob a orientação dos concelhos e o comando dos magistrados eleitos, são os protagonistas de uma gesta ímpar no dealbar do Portugal medieval.


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Trinta Sonetos Triviais

O Alentejo

 

Gosto do Alentejo e da paisagem,

Das gentes e da açorda alentejana,

Da carne de borrego e da barragem,

E do rico ensopado que não engana;

 

Da costa, junto ao mar, e da planície,

E dos montes brancos e da esteva

Que pede meças, em superfície,

Ao grandessíssimo lago do Alqueva;

 

Do belo porco preto, do pata negra,

Esse magnífico presunto que só tem

Nas terras de Barrancos e Amareleja.

 

E mais não digo porque não convém

Que os da capital se roam de inveja

Dos que ainda teimam em viver além.

 

(Prémio de Poesia e Ficção de Almada-Poesia, 2016)


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Um Certo Incerto Alentejo

“Um Incerto Certo Alentejo” é uma sátira desbragada, eivada de ironia, sobre uma certa realidade social caraterística do mundo rural e, em particular, do Alentejo. Contada no presente do indicativo por um narrador que parece conhecer a trama apenas por alto, a narrativa acompanha o percurso pouco empolgante do novo administrador da Reserva Florestal de Vale das Lampas e Azarelhas, um jovem engenheiro alentejano acabado de sair da Universidade. Trata-se de uma história particularmente amoral, mas feita essencialmente daquela amoralidade alentejana que foge ao estigma e ao sentimento de culpa. Como ninguém é inocente nesta história, a maldade é relativa e a redenção tanto se faz na igreja como nas tabernas. Como o narrador conclui, a dada altura, «se todos fôssemos à missa ao mesmo sítio, não haveria catedrais que chegassem».

(1º. Prémio Literário Joaquim Mestre – 2017)


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